Até o final do século XX, o conceito de luxo era quase sinônimo de riqueza.
Uma mansão que tenha pertencido à realeza do velho mundo, uma moderníssima cobertura com vista para o Central Park em NY, como a do Sting (com modestos 5.000 metros quadrados), um iate tripulado ancorado em Mônaco, camarote cativo na quadra central de Winbledon, um Rolls-Royce Sweptail com um casal de motoristas para conduzir os filhos e amigos e uma Bugatti La Voiture Noire para passeios privados, todas essas pequenas mordomias eram consideradas indicadores de luxo, ainda no século passado.
Essas referências têm raízes históricas, na divisão entre a nobreza e a plebe, quando apenas a primeira casta tinha direito a propriedades, educação e reconhecimento de seus direitos.
Mas novas forças vêm agindo sobre a sociedade, transformando simbolismos e significados.
Desenvolvimento Econômico, Democratização, Sociedade do Conhecimento, Imaterialização e Individualização são algumas das Megatrends que modificaram as escalas de valores sociais.
O direito à propriedade já não é tão exclusivo, a educação (comparativamente) foi democratizada, o acesso à informação é generalizado e o reconhecimento dos direitos individuais e coletivos avançaram.
Gradativamente, vai ficando mais claro que o luxo não é riqueza em si, mas a exclusividade que ela pode proporcionar.
Luxo é ter algo que poucos podem ter. E o supremo luxo é ter algo que ninguém mais tem, mas que todos desejariam ter.
Luxo não é ter dinheiro para comer num restaurante caro. É ser recebido pelo dono do restaurante mais badalado, sem precisar fazer reserva com antecedência, e receber atenção exclusiva do ‘chef’, que já sabe como preparar seu prato predileto que, obviamente, nem consta no cardápio. O dinheiro costuma comprar esse tipo de coisa, mas o prestígio ou o relacionamento também alcançam a exclusividade.
A recém lançada Red Carpet Home Cinema é conhecida nos Estados Unidos como a ‘Netflix dos Ricos’. Seus assinantes têm acesso imediato aos filmes no momento em que são lançados no cinema. A taxa de inscrição é algo em torno de R$ 60 mil e para assistir cada filme o associado desembolsa até R$ 12 mil por título, com direito a assisti-lo duas vezes num intervalo de 36 horas.
Isso é para quem gosta de cinema e tem muito dinheiro.
Luxo é ser convidado pelo Fred Rosen, fundador da Red Carpet, para assistir a primeira versão com edição final em sua casa, na companhia de alguns dos atores do filme, sem precisar pagar.
Na medida em que os efeitos da Individualização e da Imaterialização sobre a sociedade se intensificam, o luxo caminha para significar o que faz de você uma pessoa única e melhor aos olhos da sociedade. Relacionamentos, conhecimento, expansão da consciência, o encontro de um propósito, o amor, o bem-estar, a felicidade e outras coisas intangíveis que nem sempre o dinheiro pode comprar. E o luxo supremo passa a ser o reconhecimento, o respeito e a atenção à sua individualidade, sem a preocupação com a opinião da sociedade.
Flavio Ferrari
Head do CIFS BR
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