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A revolução imobiliária urbana

No século passado acostumamo-nos à ideia de que crises geram oportunidades.

Isso é uma meia verdade. Crises amplificam necessidades e alteram a linha do tempo dos cenários prováveis para o futuro. A necessidade, se não é a mãe da criatividade, é a força propulsora das realizações. É por isso que tantas coisas novas surgem em momentos de crise. Ideias se concretizam para solucionar problemas emergentes.

O trabalho remoto, que evoluirá rapidamente para o trabalho flexível (sem determinação de local ou horário), é um dos cenários futuros que foi acelerado pela pandemia da Covid-19. No curto prazo, suas consequências são óbvias.

- As empresas perceberão que esse modelo é eficiente e oferece uma oportunidade para redução de custos, investindo no aprimoramento da implementação mesmo após a crise;

- Os profissionais perceberão os benefícios do modelo para a qualidade de vida, e darão preferência às empresas que oferecem essa facilidade;

- As plataformas e serviços de facilitação operacional dessa modalidade de trabalho ganharão impulso, e veremos o lançamento de novas soluções;

Crédito: Free-Photos por Pixabay .

Um pouco menos óbvio, mas igualmente evidente, é o impacto dessa mudança para o mercado imobiliário. Grandes escritórios serão menos necessários e os imóveis residenciais ganharão espaços de trabalho. As áreas hipervalorizadas pela concentração de empresas terão seu valor por metro quadrado reduzido, e isso vale também para seu entorno residencial, já que não será tão vantajoso morar perto do escritório. Áreas mais agradáveis e mais distantes dos tradicionais centros de negócio serão valorizadas.

O que, talvez não seja evidente no momento é a transformação que isso trará para os grandes centros urbanos.

Podemos esperar a evolução gradual para uma melhor distribuição da densidade populacional, uma vez que a geolocalização deixa de ser um fator determinante na relação entre a empresa e sua equipe de trabalho. O local onde moramos e o endereço comercial da empresa para qual trabalhamos se tornam menos relevantes para a relação de trabalho e, com isso, empresas e colaboradores terão maior liberdade para escolher suas bases, resultando no “espalhamento” dos endereços, também para os pequenos negócios do entorno. Num primeiro momento, isso deve acontecer “localmente”, em cada cidade. Mas a tendência é que o efeito seja regional, nacional e global.

A exceção fica para as indústrias de mão de obra intensiva, ainda pouco automatizadas, mas essas já costumam ocupar espaços periféricos.

O efeito dessa transformação para a sustentabilidade das cidades se fará sentir rapidamente. Uma distribuição mais uniforme da população, e a flexibilidade de horários de trabalho, transformarão o fluxo de pessoas e veículos, reduzindo picos e vales. Infraestrutura e serviços públicos serão remodelados, e o desenvolvimento urbano será mais uniforme.

As pessoas terão mais tempo para o lazer ou para desempenhar outras atividades além da principal. Embora o mundo virtual tenha conquistado mais espaço em nossas vidas, sair de casa após um dia de trabalho ganhará uma nova conotação.


Canvas do livro "ACUMEN - The Future Castles' Stones" (Arguta, 2020)

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