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TECNOLOGIA ENSURDECEDORA

Foto do escritor: EditorialEditorial

Atualizado: 27 de nov. de 2024



Orelha humana com um aparelho tecnológico

A tecnologia define nosso futuro?

Estamos chegando ao final de mais um ano e, a julgar pelos primeiros relatórios indicativos de cenários futuros já publicados, a tecnologia será o vetor primordial de transformação da sociedade, tendo a Inteligência Artificial como principal protagonista.

Não surpreende.  Vem sendo assim na última década. E refiro-me ao fato de a tecnologia ser a protagonista dos relatórios de tendências, não ao seu real poder de transformação social.

Claro que a tecnologia é um dos vetores relevantes. O tradicional modelo analítico PESTEL, que sugere um olhar para os contextos político, econômico, social, tecnológico, ambiental e legal quando se pensa em cenários futuros já oferece-nos a pista. É um vetor entre seis (ou mais, dependendo do modelo)

Mas o ruído da tecnologia é ensurdecedor, e pode desviar nossa atenção de outros sinais menos evidentes.

Apenas para oferecer um exemplo recente, a pandemia Covid acelerou a utilização de várias tecnologias que já estavam disponíveis há alguns anos e desaguou na mudança do modelo de trabalho.  Não foi a tecnologia o vetor dessa aceleração. A pandemia, que pode ser encarada como parte do vetor social ou do meio ambiente, foi o agente transformador que impulsionou o uso das tecnologias. Tanto é que hoje se volta a discutir, intensamente, a possibilidade de volta ao trabalho predominantemente presencial, apesar de toda a tecnologia embarcada.

No momento, o barulho é gerado pela inteligência artificial generativa que tem, de fato, um grande poder transformador.

Mas observe que quase tudo que se diz sobre suas aplicações está relacionado com o que já fazemos. Ela é um agente facilitador, oferecendo maior agilidade e eficiência.  Certamente terá impactos significativos em todas as áreas e redefinirá a maneira pela qual as atividades serão realizadas.

E enquanto discutimos isso, o cenário geopolítico, que inclui os conflitos em curso, a transformação da Ordem Mundial (os eixos de poder), a transição dos polos de tecnologia do ocidente para o oriente e as questões Norte vs. Sul globais, que potencialmente transformarão o mundo que conhecemos de maneira radical, ficam em segundo plano, e a erosão da coesão social na sociedade ocidental é encarada como um conjunto de fenômenos isolados e nem sequer apontada como tendência.  O “império ocidental” está se esfacelando enquanto imaginamos como serão as bigas elétricas.

Bem, estamos numa sociedade capitalista onde o que importa é fechar o resultado do trimestre e garantir a valorização das ações, então o que vale é o que está na mídia de hoje ou o que a Black Rock diz que será a regar do jogo.

E para faturar mais, a atenção deve se voltar para a tal da “economia prateada”, da qual faço parte duplamente, já que participo de um curso da FIA que prepara os empreendedores para o Mercado 50+ (https://fia.com.br/extensao-ead/mercado-50-negocios-economia-prateada/) – uma consequência dos vetores Econômico e Social.

As consequências da hiper-regulamentação (as leis que se multiplicam interferindo nas relações humanas, familiares e de negócio) já apresentam consequências complexas.  Leis concebidas para “solucionar”, impositivamente, questões consideradas relevantes para a sociedade geram reações dos ecossistemas (em sua concepção mais ampla) que buscam um novo equilíbrio “orgânico”, muitas vezes com resultados contrários aos esperados.  Isso também não costuma aparecer nas análises de cenários futuros pautadas pela tecnologia.

E a discussão da questão DEI (diversidade, equidade e inclusão) surge, nas descrições de cenários futuros, como uma tendência, enfatizando a importância do papel das organizações e de sua preparação para encaminhar soluções, como se isso fosse exequível, num momento em que a sociedade vivencia a individualização exacerbada, a hipersensibilidade e a polarização intolerante, e as empresas buscam a resiliência financeira (recomendação da Black Rock). Mas teremos mais leis mágicas para resolver esse problema.

E falando em polarização, essa componente do Zeitgeist (o espírito do nosso tempo) contamina até os melhores entre nós, levando-nos a imaginar distopias catastróficas e utopias fantásticas, distanciando-nos da protopia (os melhores cenários possíveis considerando o que temos para o momento).  Daí a importância do desenvolvimento da consciência crítica, individual e coletiva.

Posso ter parecido algo pessimista, mas não é essa a ideia.

Minha intenção foi apenas a de instigar uma visão mais abrangente, holística, nexialista (para usar a palavra da moda), quando se trata de conceber cenários futuros prováveis, particularmente nas organizações.

Podemos ajudar a construir futuros melhores, e isso será bom para as pessoas, para o planeta e para os negócios, mas não seremos capazes de fazer isso olhando apenas para a tecnologia.

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