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ESG | Razões e Futuros

O que é sucesso para uma organização?

As sementes neocapitalistas, plantadas na segunda metade do século passado, desabrocham no início dos anos 2000 e provocam uma crise existencial corporativa.

O conceito de melhora contínua como caminho para aumentar a eficiência e maximizar resultados, que vinha animando as corporações após a segunda guerra mundial, hiper anabolizado pela aceleração das transformações sociais, tecnológicas e econômicas, colide com outras demandas emergentes do final do século, como as questões ambientais e as causas sociais.

Sistema B, Capitalismo Consciente e, mais recentemente, ESG (Governança Ambiental e Social) são expressões que ganharam espaço e relevância no mundo corporativo e que representam as tentativas de responder à pergunta do início do texto.

Com a simplicidade recomendada pela Navalha de Ockham, poderíamos dizer, de forma genérica, que a melhor definição para sucesso é atingir o objetivo. E, sem delongas, afirmar que o objetivo de uma organização é atender as necessidades e desejos de seus stakeholders.

Traduzindo, se as partes interessadas e necessárias para a existência de uma organização estão satisfeitas o suficiente para permanecerem no jogo, a organização está alcançando o sucesso.

Manter, de forma negociada, o equilíbrio entre os desejos dos stakeholders é um exercício árduo e permanente. É por isso que os CEOs são tão bem remunerados.

Mas de onde vem a ideia de que melhores práticas de governança, que também incluam o cuidado com a sociedade e o meio ambiente, são necessárias (ou recomendáveis, ao menos) para o sucesso das organizações. Quais stakeholders elas atendem?

Há que se considerar que a adoção de práticas ESG requer investimento, e isso significaria, a priori, menos dinheiro para as partes interessadas, e isso precisa ser “compensado”.

Investidores querem o maior retorno sobre seu investimento com o menor risco. Os analistas mais renomados garantem que a adoção de práticas ESG traz um melhor balanço para essa relação retorno-risco, o que costuma se refletir, também, no valor das ações das empresas.

Esse efeito benéfico se estende para as empresas parceiras e fornecedoras (para as quais é imperativo exigir as mesmas práticas), e a governança ESG, clara e transparente, oferece maior segurança nas relações.

Os colaboradores costumam reconhecer as vantagens de trabalhar para uma organização ESG, não apenas pela governança em si, mas por resultar em ambientes emocionalmente mais saudáveis.

A sociedade, quando educada para tanto, reconhece o valor das organizações ESG que, mesmo quando não abraçam causas sociais, se comprometem, no mínimo, a não causar impactos sociais e ambientais nocivos.

E qualquer governo é mais bem avaliado quando a economia vai bem, o povo está feliz, o impacto ambiental é reduzido e os impostos são devidamente coletados – as organizações ESG contribuem para tudo isso.

Se práticas ESG são vantajosas para todos, podemos esperar que sejam coletivamente adotadas em um futuro próximo?

Transformações acontecem quando existe motivação, o contexto é favorável e o resultado compensador (modelo analítico FCS).

Como as motivações são o início da jornada das transformações, devemos nos perguntar se existe motivação suficiente para que a transformação ESG aconteça.

Já elencamos, de forma genérica, os potenciais benefícios para os stakeholders mas, para que sejam motivadores, esses benefícios precisam ser conhecidos e relevantes.

Uma pesquisa recente, realizada pela MindMiners em parceria com a Google, identificou que apenas 21% dos brasileiros adultos ouviram falar em ESG. Entretanto, de cada cinco pessoas, quatro consideram importante a atuação de empresas e marcas em ações relacionadas ao meio ambiente, às questões sociais e de governança.

Como bem definiu Protágoras, há dois mil e quinhentos anos, o ser humano é a medida de todas as coisas que são e que não são.

Brasileiros compram produtos e serviços, elegem governantes e constituem todas as organizações. Neles reside a resposta para o futuro do ESG.

Uma análise da SocialData sugere as motivações fundamentais para os brasileiros nesta década: Segurança, Sustentabilidade, Sentido e Serenidade (os vetores “S”). Esses vetores representam uma síntese (denominador comum) das aspirações, insatisfações, medos e desejos individuais da sociedade.

Para saber se a transformação ESG encontrará suporte motivacional da sociedade, podemos avaliar de que forma ela atende os 4 “S”.

ESG promove ambientes mais seguros e sustentáveis, alinhando-se com os dois primeiros vetores.

Empresas ESG são uma “causa” em si mesmas, e podem escolher apoiar outras causas específicas relacionadas com o ecossistema em que atuam. Trabalhar ou apoiar uma organização ESG é algo que tem significado.

O suporte à proposta de cuidado social e ambiental do ESG, é um movimento construtivo da percepção de serenidade. No mundo ESG todos são responsáveis e grandes organizações ajudam a garantir que o melhor aconteça.

Podemos concluir que ESG é uma inovação que pode ser posicionada de forma a obter apoio da sociedade brasileira, em todos os seus eventuais papeis como stakeholders das organizações, já que atende demandas de todos os seus 4 vetores motivacionais.

Contudo, o ESG irá disputar espaço com outras iniciativas imediatistas e com suporte midiático, possivelmente mais simples de compreender e implementar.

Ou seja, o futuro do ESG depende da comunicação para “educação” social, bem antes de se tornar um diferencial (ou um aval) de posicionamento das organizações.

Os analistas da bolsa de valores já sabem o que ESG significa: menor risco para seus investimentos no curto e no médio prazo (profissionalmente, os dois primeiros vetores motivacionais “genéricos” também funcionam para eles).

Mas consumidores, colaboradores e boa parte dos parceiros e fornecedores (outros papeis que as pessoas desempenham no ecossistema) ainda desconhecem o que constitui e que benefícios pode oferecer (para cada indivíduo) essa inovação.

ESG não é uma condição dicotômica como “não testado em animais” ou “produto orgânico” - nesses dois exemplos, ou você é ou não é.

Quando uma empresa decide trilhar o caminho ESG ela está assumindo o compromisso de evoluir na direção de contribuir para que o mundo seja melhor, gerando menos impactos negativos e mais impactos positivos, e esse não é um conceito fácil de ser assimilado, principalmente num contexto em que, apenas agora, a sociedade começa a caminhar para a despolarização.


Flavio Ferrari

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