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INOVAÇÃO #buzzword

Costumo utilizar a expressão “narcóticos verbais” para me referir às palavras da moda que, quando utilizadas em uma reunião de diretoria, dão a sensação de que estamos tratando dos assuntos importantes para o momento.

Nos dias de hoje, “transformação digital”, “inteligência artificial”, “inteligência emocional”, “lifelong learning”, “gig economy”, “métodos ágeis”, “lean culture”, "desenvolvimento de líderes" e, a queridinha do momento, “inovação”, são alguns exemplos de expressões narcóticas.

Nadya Zhexembayeva, Chief Reinvention Officer da WE EXIST, publicou um interessante artigo este mês na Harvard Business Review, falando da palavra inovação: ”Sotp Calling it Innovation”.

De acordo com as pesquisas de Nadya, existem cerca de 70 mil livros sobre inovação disponíveis para compra no momento. Uma pesquisa no Google para a expressão em inglês oferece 2 bilhões de resultados (100 milhões se for em português). Somente no site da HBR você pode encontrar 4.858 artigos digitais e 10.192 estudos de casos sobre inovação.

Isso é um bom indicador da relevância do tema para a sociedade e para os ecossistemas de negócio.

Mas a autora chama a atenção para o fato de que a maioria dos líderes empresariais encontra dificuldade para realizar a inovação e acreditam que é necessário construir uma “cultura de inovação” em suas organizações.

No Brasil não é diferente. Numa pesquisa conduzida pelo coletivo Open Innovation BR, em meados do ano passado, a Cultura Organizacional foi apontada como o maior empecilho para a inovação aberta.

Em síntese, o que Nadya aponta em seu artigo é que a palavra “inovação” é associada a coisas positivas para os líderes de uma organização (melhores resultados) e a eventos negativos para as equipes (mais trabalho, redução de pessoal, medo do desconhecido), sendo percebida como ameaçadora pelo nosso cérebro de lagarto. Embora a conotação seja positiva para o posicionamento da empresa na comunicação externa, deveria ser evitada na comunicação interna, e ela sugere que a palavra seja substituída por outras que representem o mesmo conceito de forma mais positiva, como “novas ideias” ou “dias de reinvenção”.

Pessoalmente, acredito que a comunicação é a solução para a maioria dos problemas, e o problema para a maioria das soluções, e considero que o alerta da Nadya para a conotação ameaçadora da palavra “inovação” merece atenção.

Mas, independentemente da expressão que utilizarmos, mudanças serão sempre ameaçadoras.

Acredito que a melhor maneira de estimular alguém a deixar o casulo do conforto e aceitar os riscos associados à mudança seja demonstrar os riscos associados à permanência e os benefícios da evolução.

Essa conclusão vem do trabalho que realizo com o CIFS, inspirando a inovação sustentável baseada em cenários futuros.

Quando o profissional confronta suas condições atuais com as demandas dos cenários futuros, e percebe que a transformação é necessária para garantir o sucesso, ele conclui que, se já não está fácil alcançar os resultados no presente, será muito mais difícil num futuro sem as mudanças requeridas. Também identifica oportunidades que poderão facilitar sua jornada.

A mudança deixa de ser uma ameaça e a adesão ocorre naturalmente, na maioria dos casos.

O grande desafio, para todos nós, é que a nova inovação irá requerer o resgate da essência humana, um mergulho interior ao qual nos desacostumamos nas últimas décadas.


Flavio Ferrari - Head BR do CIFS | Copenhagen Institute for Futures Studies

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