O ecossistema brasileiro de saúde, pego de surpresa pela chegada da pandemia, já conseguiu se reposicionar e adotar medidas proativas para combater o surto da Covid-19.
A bem da verdade, o surto não deveria ser considerado uma surpresa. A chegada de um novo vírus com as características do Sars-Cov-2 era considerada uma certeza, embora sem data marcada. Cientistas indicaram isso em 2007, e Bill Gates e Obama avisaram que deveríamos nos preparar para isso em 2015 (Obama, inclusive, “acertou” o intervalo de tempo para chegada do vírus) e as epidemias mais localizadas que aconteceram na última década foram sinais de alerta para a comunidade médica.
Mas fato é que, com raríssimas exceções, os países não estavam preparados para um vírus com as características deste que nos assola.
Sempre que enfrentamos algo desconhecido e impactante, o primeiro grande desafio é a ausência de informação. Na medicina, isso é fundamental para estabelecer protocolos de atendimento e de tratamento eficazes e eficientes.
O método científico é rigoroso no tratamento dos dados, para que possam ser transformados em informações úteis à geração de conhecimento. Isso demanda organização, esforço, foco e tempo, itens que são escassos em meio a uma crise.
No mundo todo, cientistas estão dedicados a encontrar tratamentos eficazes e uma vacina para imunização. Interesses políticos e econômicos não facilitam um esforço global e coordenado, mas, ainda assim, existe troca de informações úteis entre os membros da comunidade.
Quem administra uma rede de hospitais e tem vocação científica, leva uma vantagem nesse momento, porque pode ter acesso a um grande volume de informações, com transparência e agilidade, para alimentar suas análises.
Esse é o caso da rede brasileira D’Or, que tem 50 hospitais e mais de 600 pacientes internados com diagnóstico ou suspeita de Covid-19.
A rede, através do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (Idor), pretende investir por volta de R$ 20 milhões para reunir cientistas e médicos brasileiros com a missão de produzir conhecimento sobre a Covid-19, reunindo as informações publicadas globalmente e as coletadas em sua rede de atendimento.
"A ideia é construir uma base de dados clínicos robusta para correlacionar históricos, sintomatologia, evolução e resposta aos tratamentos” - Claudio Ferrari
Claudio Ferrari, médico e diretor do Idor, explica que o primeiro passo foi sistematizar o registro de informações em todas as unidades.
“Nossos hospitais estão utilizando prontuários padronizados para coletar e registrar informações importantes para o estudo da Covid-19, tanto presencial como remotamente. A ideia é construir uma base de dados clínicos robusta e geograficamente abrangente, com informações acuradas e relevantes, que permitirá correlacionar históricos, sintomatologia, evolução e resposta aos tratamentos” , explica Ferrari.
Claudio acredita que até o final do mês da abril o time será capaz de começar a responder algumas perguntas fundamentais sobre a progressão, a gravidade e os possíveis tratamentos.
Além dessa iniciativa, a Rede D’Or também disponibilizou mais de R$ 100 milhões em recursos para a construção de hospitais de campanha no Rio de Janeiro, a reforma de leitos da Santa Casa de São Paulo e uma série de outros projetos relacionados com a Covid-19. Parceiros como Lojas Americanas, Banco Safra, IBP, Sul America, Rede Impar, UHG e Qualicorp vêm apoiando algumas dessas ações.
Segundo Leandro Tavares, médico e vice-presidente médico da rede, os investimentos emergenciais foram planejados para deixar um legado para o SUS nessas cidades, após a pandemia.
“É um dinheiro privado, da rede e dos parceiros, que está sendo utilizado para ampliar as instalações do Sistema Único de Saúde” – reforça Tavares.
Movimentos como esse deverão contribuir para a reconfiguração do sistema de saúde brasileiro, que é híbrido (público e privado), num futuro próximo.
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