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Sobre o caso Prevent Senior

Apesar de termos o maior sistema de saúde universal do mundo (SUS), suas limitações são evidentes, e ter um plano de saúde é uma prioridade para todos os brasileiros que conseguem ter acesso a este benefício.

Enquanto estão empregados, isso costuma ser possível.

O problema é que após os 60 anos, quando a maioria das pessoas começa a se retirar dos empregos formais e perde direito ao plano, é quando mais precisam deles.

Diante da alta sinistralidade da população de idade mais avançada, as grandes empresas de planos de saúde estabeleceram tarifas elevadas para esse segmento, se tornando pouco atrativas e reduzindo seus riscos.

A Prevent Senior enxergou, há pouco mais de 20 anos, uma oportunidade de negócio no atendimento deste grupo negligenciado, decidindo correr os riscos associados.

Adotou uma estratégia de negócio que permite que seja lucrativa, mesmo cobrando de 50 a 70% menos do que seus concorrentes, fundamentada na constituição de uma rede própria verticalizada, na implementação de protocolos de acompanhamento de doenças crônicas para prevenção de complicações e em ações táticas de controle de demanda e de custos.

Apesar de algumas críticas contundentes de concorrentes e profissionais do setor, o modelo prosperou, com a expansão de sua base impulsionada por clientes satisfeitos com o atendimento oferecido.

A chegada de uma pandemia que afeta, prioritariamente, o principal grupo de clientes da Prevent Senior, está sendo um duro golpe. Em São Paulo, a maioria dos óbitos iniciais em decorrência da Covid-19 aconteceram em seus hospitais.

Não temos informações suficientes para julgar a qualidade técnica e administrativa de suas equipes, avaliar se houve contágio dentro de seus hospitais ou discutir a qualidade da assistência oferecida aos pacientes. Mas certamente não estavam preparados para a demanda que receberam, num primeiro momento. Ninguém estava. Nunca havíamos passado por algo semelhante. Tudo indica, entretanto, que conseguiram controlar a situação, na medida do que é possível, consideradas as incertezas da pandemia.

"A pandemia nos obriga a acelerar a discussão de problemas conhecidos."

Crises antecipam o futuro, e o episódio chama a atenção para um problema emergente em todos os sistemas de saúde do mundo, públicos ou privados.

O aumento da longevidade sobrecarrega os sistemas de saúde, que ainda não estão preparados para isso, e a medicina preventiva, que só recentemente começou a ser adotada de maneira mais intensa pelos operadores de planos privados, requer mudanças estruturais no modelo de negócios.

Uma organização dedicada exclusivamente ao atendimento de idosos, que surgiu a partir da detecção de uma oportunidade de negócios, pode não ser a melhor alternativa para solucionar o problema de uma sociedade que envelhece. Mas é uma solução que, mesmo imperfeita, vêm dando suporte para algumas centenas de milhares de pessoas que não querem depender do SUS.

Nesse contexto, poderíamos dizer que a Prevent Senior não é heroína ou vilã dessa história. É apenas um negócio que foi concebido para atender uma demanda, já represada na ocasião, e com visão de futuro. Mas é um negócio sensível, porque dele dependem vidas, e merece ser permanentemente avaliado e auditado por autoridades de saúde, como todos os outros negócios do setor.

E qual seria a melhor solução?

Estamos diante de (mais) um problema social, tal qual o do sistema previdenciário, e compete às autoridades públicas normatizarem o setor privado, uma vez que nosso sistema de saúde para atendimento à população é híbrido (público + privado), de forma a otimizar o uso dos recursos para atendimento à população.

Aproximadamente 80% das pessoas consideradas idosas têm pelo menos um problema crônico de saúde. Se a sinistralidade do grupo for calculada isoladamente, os planos privados não terão alternativa senão a de cobrar caro para garantir suas margens de lucro.

Um modelo ideal, para um sistema universal de saúde (que possa atender a todos, na medida de suas necessidades), precisa, necessariamente, subsidiar o atendimento aos mais velhos, ainda que seja a partir de sua própria participação no sistema ao longo da vida (pagar um pouco a mais quando jovem para poder pagar menos no futuro).

A experiência do setor vem demonstrando que algumas condições básicas podem ajudar a garantir a sustentabilidade de um sistema de saúde universal híbrido como o nosso:

- ser misto (todas as faixas etárias), para distribuição do risco;

- ter foco em prevenção e adotar a coparticipação, para reduzir o uso da rede

- ter rígido controle sobre insumos, para reduzir custos

- premiar a permanência e a prevenção, como forma de reduzir o aumento do valor com a idade

- estabelecer modelos de parceria público-privadas (PPP) para atendimento de modalidades e situações críticas

A discussão de um novo modelo, que já fazia parte da agenda dos principais congressos de saúde, ganhará força, relevância e prioridade após a pandemia.

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