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O futuro da educação

A demissão dos professores de ensino a distância da rede Laureate retoma a discussão sobre os rumos da educação no Brasil.

Em nota para a Folha de São Paulo, o grupo afirma tratar-se de uma reestruturação, sem maiores implicações para a qualidade do ensino.

A Laureate já trabalhava com aulas pré-gravadas e com correções de trabalhos dos alunos feitas por robôs (IA). O papel dos professores demitidos era restrito a resolver dúvidas pontuais.

O ensino à distância e a possibilidade dar acesso a materiais de alta qualidade em larga escala é, de fato, uma importante evolução para o negócio da educação.

A desconstrução do mito de que aulas presenciais são mais eficientes do que o acesso remoto a conteúdo pré-gravado deve ser acelerada por esse momento de reclusão.

Particularmente para o ensino superior, transferir para o aluno a responsabilidade de fazer a auto-gestão de seu processo de aprendizado é positivo. A solução respeita o ritmo individual e contribui para capacitar o aluno na busca autônoma do conhecimento, que é uma competência requerida para o mundo atual e para o futuro. Qualquer que seja a profissão escolhida, todo aluno precisa aprender a ser um gestor de informação.

Além disso, esse modelo permite maior investimento na produção do conteúdo, cujo custo será diluído por um número maior de alunos.

Claro que, num país como o nosso, existem barreiras importantes a serem superadas para que esse tipo de solução seja democratizada. Se, por um lado, a solução pode trazer melhor qualidade para o ensino, redução de custos para as escolas e economia do tempo de deslocamento para alunos e professores (entre outros benefícios), de outro os recursos necessários, como acesso à internet, computador e espaço adequado, não estão disponíveis para todos, o que poderia ser contornado através de centros públicos de inclusão digital

Mas esse seria o primeiro passo para a transformação da educação, onde a escola passa a ser uma curadora de conteúdo, provedora de vivências e orientadora do aprendizado, além de um centro de estímulo ao pensamento inovador.

Não nenhuma contraindicação para a pré-produção dos conteúdos mínimos exigidos por lei para cada curso, que poderiam ser padronizados e disponibilizados pelo próprio Ministério da Educação, com alto padrão de qualidade.

Nesse contexto, o papel do professor passa a ser outro, o de condutor das vivências individuais e coletivas inerentes ao processo de aprendizado, o que requer outras qualificações.

A evolução da tecnologia permitirá outras transformações interessantes, como as vivências imersivas propiciadas pela Realidade Alterada (AR) e o uso da inteligência artificial como agente interativo para individualização da grade, correção de trabalhos, identificação de dificuldades de aprendizagem e resolução de dúvidas.

A crítica que se faz, como no caso da Laureate, é que o foco da transformação digital, em muitos casos, não parece estar sendo a qualidade do ensino, mas a redução de custos.

Esse pensamento de curto prazo cobrará seu tributo mais tarde, e as escolas mais inovadoras, havendo investido na reformatação do modelo, na preparação dos professores e nos recursos tecnológicos necessários, liderarão, com folga, o mercado do futuro.


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