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"Burnout" e o mito da resiliência

A Síndrome de Burnout é considerada o mal do início do século. Trata-se de um estado de esgotamento mental, com reflexos físicos, cuja origem costuma ser atribuída ao estresse profissional.

Em função disto, os profissionais de Recursos Humanos passaram a valorizar a “resiliência” - a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, e resistir à pressão de situações adversas.

Nos casos mais graves, a síndrome pode resultar em quadros de depressão profunda, requerendo intervenção médica, tratamento psiquiátrico e acompanhamento psicoterapêutico.

Para os mais leves, sobram recomendações que vão desde estratégias comportamentais para contornar os problemas no trabalho até terapias holísticas diversificadas, passando pelas pequenas indulgências cotidianas.

A questão, porém, merece uma análise mais profunda e filosófica.

O Zeitgeist, ou espírito do nosso tempo, é marcado pela falta de significados e pelo excesso de causas efêmeras.

Temos muito pelo que lutar, uma profusão de metas difíceis de alcançar e pouca clareza do que realmente é importante para cada um de nós.

Na medida em que desconstruímos as autoridades e referências institucionais e, com elas, nosso propósito de vida, buscamos preencher esse vazio com novas representações motivadoras. O sentimento de urgência nos acelera e a falta de significados corrói nossa disposição. O esforço necessário para prosseguir na jornada, sem a certeza do caminho, é hercúleo.

Resiliência, um conceito emprestado da Física que indica a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica, é o mito que nos anima. Precisamos desenvolver a capacidade de resistir às pressões sem que isso nos afete de maneira definitiva.

Esta árdua luta cotidiana acontece num cenário de aceleradas transformações, tecnológicas, sociais e econômicas. Não nos sobra tempo para introspeção e reflexão.

“De nada adianta a pressa quando estamos no caminho errado.” – pensamento taoísta.

A energia que investimos para trilhar um caminho sem significado pessoal e para resistir às pressões está mal endereçada. Insistimos nesse caminho equivocado até a exaustão.

Plasticidade, outro conceito da Física que indica a propriedade de um corpo mudar de forma ao ser submetido a uma tensão é uma ideia melhor do que resiliência. Se nos adaptamos e nos transformamos sob pressão, ela deixa de ter efeito sobre nós.

As novas referências, necessárias para identificar nosso caminho, são internas. Nossos verdadeiros sonhos e desejos precisam ser conhecidos e respeitados para que nossa jornada deixe de ser cansativa e passe a ser prazerosa.

A milenar filosofia Taoista recomenda o Wu Wei (não ação) como princípio prático para reencontrar a harmonia. Uma atitude serena, sem esforço o tensão para interferir no curso natural dos acontecimentos (plasticidade). Ou, em outras palavras, evitar ações desnecessárias e improdutivas, uma categoria na qual poderíamos classificar a grande maioria de nossas atividades cotidianas.

O que é necessário, relevante e produtivo é o que tem significado para cada pessoa.

O caminho para evitar o “burnout” começa pela busca dos significados pessoais.

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